EDA50 Escolas à Descoberta de Abril
O trapicho em Valença – 400 metros de terror
2023-24, 6 alunos envolvidos, 12.º ano C
2024-25, 2 alunos envolvidos do 11º C
Produto: Vídeo com entrevistas e recriação histórica
A prática do Trapicho durante o período do Estado Novo na região transfronteiriça de Valença do Minho, é abordada neste vídeo a partir de histórias relatadas por pessoas da comunidade que constituem os últimos testemunhos em primeira pessoa desta prática da zona raiana. De forma natural são narradas vivências de gerações de mulheres guerreiras que lutaram corajosamente para prover o sustento da família. Histórias de luta e sobrevivência no feminino.
A realização das várias etapas do trabalho revelou-se fundamental para a preservação deste património coletivo que está em franco esquecimento na comunidade. Foi muito importante para os jovens envolvidos, mas também para os docentes que aprofundaram os seus conhecimentos sobre o tema.
Este vídeo constitui também material pedagógico para a restante comunidade educativa.
Narrativa Explicativa:
No contexto das comemorações do cinquentenário do 25 de Abril, de 1974, o desafio proposto pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) às escolas, foi a exploração da história local para que as memórias relacionadas com as vivências locais no período da Ditadura Salazarista não se perdessem.
Numa realidade transfronteiriça surgem características económicas e sociais muito próprias que se constituem como realidades únicas no território nacional cuja compreensão implica o contacto com os locais.
Neste contexto foi lançado o desafio aos alunos que, desconhecendo o tema por completo, abraçaram o desafio e iniciaram o levantamento de informação.
Depois de constatarem a parca informação bibliográfica disponível perceberam que tinham de ir para o terreno e ouvir as personagens da sua história.
Com a colaboração das Doutoras responsáveis pelo Núcleo Museológico começam a perceber que, para uma real compreensão desta atividade, tinham que ir ao encontro das gerações que vivenciaram a realidade do trapicho. Estas revelaram-se testemunhos preciosos com memórias ainda pouco ouvidas. Foi também evidente o entusiamo dos entrevistados por constatarem o interesse dos mais jovens em ouvir as histórias de vida das gerações passadas.
Esta possibilidade de contactar com essas personagens originou um maior empenho nos alunos que, desde logo, se mostraram estimulados em aprofundar esta temática.
A riqueza destes primeiros encontros marcou profundamente os alunos envolvidos e motivou-os à organização de “encontros” destes personagens com uma plateia de alunos da escola.
Foi uma experiência única, foi um encontro intergeracional profundamente enriquecedor para todos e uma etapa fundamental para a preservação das memórias destas mulheres guerreiras da raia húmida do Concelho de Valença, Conselho marcadamente rural com um grau de pobreza assinalável que torna a vida das famílias extremamente difícil na época estudada. A localização fronteiriça permite a prática do trapicho que se tornou nesta localidade uma atividade de complementaridade da economia familiar de muitas famílias locais. A relação intergeracional revelou-se, assim, fundamental para manter a História viva e significante para os nossos alunos.
Neste vídeo abordamos a atividade do trapicho até década de 1970.
Os entrevistados foram escolhidos por serem os últimos capazes de constituírem um testemunho vivo e aceitaram o desafio de relatar as suas memórias com o entusiasmo de quem é finalmente “ouvido”; relataram as experiências vividas ou presenciadas, esclarecedoras das vivências de uma geração de mulheres que lutou corajosamente para afastar a pobreza dos filhos.
Foi produzido um vídeo que regista a entrevista a três valencianos que relatam vivências durante o Estado Novo. Estes relatos incluem vivências que exploram as áreas temáticas do mundo do trabalho e nos direitos humanos e civis, nomeadamente o papel da mulher no seio da família num contexto rural transfronteiriço.
A preparação das entrevistas envolveu a consulta de bibliografia já produzida e alguma documentação que os entrevistados forneceram, tais como, fotografias da época. A triangulação entre os testemunhos dos entrevistados e a documentação permitiu obter uma visão mais completa do fenómeno.
Como parte do produto final os alunos filmaram os “400 metros do terror” que essas mulheres tinham que percorrer para garantir pão para os filhos. Uma aluna surge caraterizada como trapicheira, com adereços da época disponibilizados pelas doutoras do Núcleo Museológico, e percorre a calçada pisada por essas mulheres descrevendo partes fundamentais do mesmo.
Pretende-se que o produto seja utilizado como material pedagógico em sala de aula ou em atividades interdisciplinares. Foi sobretudo, um pequeno contributo para a preservação deste património local e a tomada de consciência de que é urgente continuar a tratar a história local envolvendo os alunos.
Com projetos deste género a história local torna-se “viva” e não cai no esquecimento.